domingo, 2 de maio de 2010

EDUCAÇÃO, ENSINO E INSTRUÇÃO: O QUE SIGNIFICAM ESTAS PALAVRAS
Prof. Dr. C Benito Almaguer Luaiza

Aqui se destaca a importância da terminologia para o desenvolvimento da ciência Didática. Se especifica as diferencias entre palavras, termos, categorias e do objeto de estudo. Enfatiza-se na distinção de educação, ensino e instrução e sua relação com a ciência do ensino.

Definição de palavras, termos, categorías e objeto de estudo

Vamos iniciar estas reflexões com a necessária distinção entre o que é um objeto de estudo, ou uma categoria, ou um termo e/ou uma simples palavra. O que nós denominamos como língua, é constituído por todo um sistema de sistemas, como diria o suíço F. de Saussure. Esse sistema de comunicação humana de uma determinada sociedade é constituído por unidades lingüísticas básicas que se denominam palavras. Portanto, todo texto produzido por essa comunidade é construído com a utilização, segundo as regras gramaticais, pelas palavras que conformam o vocabulário dessa língua. Comunicamos-nos utilizando as palavras em ordem lineal, predeterminadas, pela sintaxe da língua. Utilizamos diversas palavras para expressar uma mesma idéia ou noção. Por isso a existência da sinonímia, na língua do dia-a-dia. São sinônimas as palavras aluno, estudante, escolar etc, pois denominam uma pessoa que freqüenta a escola. Isso é factível, já que na função comunicativa da linguagem, que eu prefiro denominar função interacional, o que importa é a transmissão da mensagem como um todo semântico.
Já quando se utiliza a Língua Científica, a função da linguagem que predomina é a gnosiológica, por tanto, a situação se restringe à utilização das palavras em dependência da área de conhecimento em questão. Para a comunicação científica se faz necessário, para evitar ambigüidades, utilizar "palavras" criadas pelos cientistas, para poder estabelecer uma comunicação com os menores obstáculos no seu entendimento. Essas palavras que pertencem a uma determinada ciência se denominam termos e seu conjunto conforma a terminologia dessa ciência em particular.
Por exemplo: para o que as pessoas comumente denominam de dor de cabeça, o médico utiliza um termo específico das ciências médicas, cefaléia. Assim, se pode dizer que todos os termos são palavras, mas nem toda palavra é um termo. No caso da Didática, discente, docente, aula, aprendência, instrução, treinamento são exemplos de termos que conformam parte da terminologia didática. Para a sociedade, como um todo, as palavras contrato e convênio são sinônimas, por referir aos acordos estabelecidos entre duas ou mais partes. Não obstante, como termos das ciências jurídicas, valoradas como termos jurídicos em si, são diferentes. O mais importante nas palavras utilizadas no dia-a-dia reside na conotação do que se expressa com essas palavras, enquanto se utiliza um termo o mais relevante é sua denotação, e não sua conotação.
Por outro lado do mesmo assunto, dentro do conjunto de termos, a terminologia de uma determinada ciência, tem termos, mas importantes e de uma maior generalização que outros. Daí, que aqueles termos que conformam a base fundamental de uma ciência se denominam categorias dessa ciência. Diríamos, em um linguajar, menos técnico, são as palavras chaves de uma determinada ciência.
Por tanto, para ir resumindo em parte, o que foi colocado até aqui. Poderíamos dizer que toda categoria é um termo, mas nem todo termo é categoria. Também, que todo termo é uma palavra, mas nem toda palavra é termo. Toda ciência tem um sistema de palavras que constituem as pedras ou o alicerce de sua construção, de seu sistema de conhecimento. Esse sistema é denominado como categorias dessa ciência. Ainda a ciência não se constrói com dogmas, é bom desde uma perspectiva didática e para melhor entender, dizer que geralmente são em media umas quatro a oito "palavras chaves" as que constituem o sistema de categorias de uma ciência em particular. Já o sistema de termos, ou melhor, terminologia de uma ciência é um conjunto mais abrangente de palavras que se utilizam para poder explicarem as particularidades das essências e fenômenos da ciência em questão.

Depois de esclarecer o que é palavra, termo e categoria, faltaria esclarecer o que significa um objeto de estudo de uma determinada ciência, que como é lógico se expressa com uma simples palavra, ou uma perífrase. Por exemplo, o termo aula é uma categoria dentro da terminologia didática, porém não é o objeto de estudo da Ciência Didática. E o objeto de estudo? O que é o objeto de estudo de qualquer ciência? Pois, dentro do seleto número de categorias de uma ciência em particular sempre tem aquela categoria que abrange as demais categorias. Essa mega-categoria que contêm dentro si as demais categorias gerais é o objeto de estudo dessa ciência.
Para concluir com este item introdutório, e facilitar o entendimento do resto do trabalho, seria de cardinal importância explicitar que toda essa análise é válida só para a ciência em questão. Aqui mesmo nós referimos às palavras: palavra, termo, categoria e objeto de estudo como esclarecimento e não como definições lingüísticas de cada uma delas. A "palavra" objeto de estudo, ainda seja numericamente três palavras, é considerada perífrase, com valor de uma palavra só. Para finalizar este raciocínio, de só vale dentro de uma ciência, explicitamos que um termo de uma ciência pode ser também um termo de outra ciência ou pode ser uma simples palavra, com respeito à outra. O que não é possível é que o mesmo objeto de estudo seja objeto de estudo de outra ciência. No caso específico, nesta obra, se abordará o objeto de estudo da Didática, que é o ensino, e este é sem dúvidas um importante termo dentro da Pedagogia.
Problemas da terminologia em Didática
Uma das problemáticas neste campo de conhecimento é a ambigüidade da terminologia. Claro que ciência não é como os neopositivistas consideraram, "colocar na língua científica o conhecimento popular". Não obstante, o sistema de conhecimento de qualquer ciência está determinado pelas categorias e os termos que descrevem e fundamentam a estrutura base de seu objeto de estudo. E tudo isso se logra com uma adequada utilização da língua científica, em especial sua terminologia.
Uma das complexidades tanto para a Pedagogia, como para a Didática são seus respectivos objetos de estudo, suas categorias e suas terminologias, pois qualquer leigo se acha no "direito" de "dissertar" sobre educação ou ensino. Por exemplo. Quem fala sobre Física Quântica? Ou sobre Biologia Molecular? Não é suficiente saber contar para ser matemático!
Este fato leva a que existam trabalhos, "resultados de pesquisas" que nos seus conteúdos têm uma mistura de conhecimentos acientíficos e anticientíficos que pouco ajudam na prática social e no desenvolvimento destas ciências. É triste mesmo, como muitos se autodenominam especialistas da educação, ou do ensino, que nem dominam a terminologia destas áreas de conhecimento. Mas eles têm espaços nos meios de comunicação, pelo poder ou pela influência do dinheiro. Enquanto, muitos verdadeiros especialistas ficam esquecidos nas aulas das instituições de ensino. São os que sabem a importância de uma preparação holística na sua formação, sabendo colocar a necessidade de estudo multidisciplinar, com uma correta utilização das terminologias, das categorias e os objetos de estudos das diversas ciências particulares. A ciência não tem fronteiras, somos os cientistas, que para poder aprofundar e melhor nos preparamos as dividimos; mas sempre que seja possível, devemos reintegrar-las a essa realidade multidisciplinar.
Um exemplo neste contexto é o posicionamento do ilustre Jean Piaget, que segundo um dos seus discípulos, Gadotti,M (1988, p. 64) considerava que:
Quando a maioria dos institutos de ciências, hoje, ainda se mantêm fechados em pequenas capelas, fechados num linguajar hermético, Piaget sempre concebeu o estudo científico como uma interseção de disciplinas. Não se pode fazer Psicologia sem a Física, sem a Matemática, sem as Ciências Sociais.
Aliás, o sucesso das teorias de Piaget sobre desenvolvimento da inteligência nas crianças deve-se, em grande parte, à rigorosa fundamentação físico-matemática e bioquímica. Ele sempre soube escolher, nesse sentido, os melhores pesquisadores das áreas. Era um homem que sabia ouvir.
Piaget não gostava de responder a perguntas sobre educação. Limitava-se a dizer que não havia pesquisado esse campo do saber. Perguntaram num programa de Radio Suisse Romande, por que não investigara a afetividade. Respondeu que não tinha tempo para tratar da inteligência e da afetividade ao mesmo tempo. Preferiu optar pelo estudo da inteligência.
Essas idéias de Piaget sustentam o paradigma que deveria ser seguido por muitos que se auto-titulam especialistas, onde o estudo específico deve ser inserido depois num sistema de conhecimento mais amplo e completo. Mas para isso, é imprescindível o domínio do que são as palavras, os termos, as categorias e os objetos de estudos das áreas de conhecimentos que corresponderiam a diversas ciências particulares e se estaria melhor contribuindo à divulgação dos estudos científicos.
Já pensou que educando, aluno, estudante, discente, criança, escolar, aprendiz, são a mesma coisa? Ao final não são sinônimos? Sim. Essas palavras são sinônimas na utilização do dia-a-dia, mas não na língua científica, pois cada palavra mencionada expressa um conceito distinto. No caso da Pedagogia, educando e escolar, seriam importantes termos dentro do campo de estudo e pesquisa. Já para a Didática referiria melhor os termos de aluno, estudante e discentes, e assim por diante.
A língua científica deve ser objetiva, não deve permitir ambigüidades. Outro exemplo poderia ser o fato que o professor não tem "didática", o que o docente pode e deve ter é competência didática. Por isso, quando no dia-a-dia, alguém diz: -"Esse professor tem uma boa didática", na língua científica deve considerar-se que aquele profissional de referência, tem domínio dos aspectos ou dimensões didáticas necessárias que conformam essa competência. Para escrever essa idéia seria factível expressar concretamente a concepção do que objetivamente se quer fundamentar, pois aquela expressão é ambígua no contexto científico a partir que poderia referir a:
· Esse docente é competente didaticamente,
· Esse professor doutor domina a competência didática,
· Esse professor domina a arte de ensinar...etc.
Se importante é a adequada utilização da terminologia de uma ciência, imagine o que acontece quando o assunto em questão são as categorias ou o próprio objeto de estudo? Então, considerando que na língua científica não se admite a sinonímia, se conclui, cientificamente "falando", que educação, ensino e instrução não são sinônimos. Portanto, gostaríamos de partir de uma generalização e logo a seguir no trabalho, particularizar, o porquê podemos dizer que a educação é um importante termo didático, enquanto é também o objeto de estudo da Pedagogia. Já a instrução é um termo eminentemente didático, que também seria utilizado na Pedagogia e em outras ciências.
O que é Educação num contexto didático e num contexto Pedagógico?
Desde a época de Platão, o termo educação foi centro dos debates. Para ele era dar ao corpo e a alma toda beleza e perfeição que fosse possível. Émile Durkheim a considerava a preparação para a vida. Para Pestalozzi, a educação do ser humano deve responder às necessidades de seu destino e às leis de sua natureza. Para José Martí, é depositar em cada homem toda a obra da humanidade vivida, é preparar o ser humano para a vida.
Segundo o ICCP (1988) se entende por educação o conjunto de influências que exerce a sociedade sobre o indivíduo. Isso implica que o ser humano se educa durante toda a vida.
A educação consiste, ante todo, em um fenômeno social historicamente condicionado e com um marcado caráter classista. Através da educação se garantirá a transmissão de experiências de uma geração à outra. (ICCP, 1988, p.31)
Segundo Lênin, V (apud. ICCP, 1988), a educação é uma categoria geral e eterna, pois é parte inerente da sociedade desde seu surgimento. Também, a educação constitui um elo essencial no sucessivo desenvolvimento dessa sociedade, a ponto de não conceber progresso histórico-social sem sua presença.
Para Martins,J (1990) a educação é um processo de ação da sociedade sobre o educando, visando entregá-lo segundo seus padrões sociais, econômicos, políticos, e seus interesses. Reconhece-se aqui a necessária preparação para a vida, já referida em outras definições e que só se logra a através de convicções fortes e bem definidas de acordo com esses padrões. Por isso é tão importante, mas que uma definição o mais precisa possível, a caracterização deste objeto de estudo e pesquisa da Pedagogia.
Para uns, Educação é processo, para outros é categoria, ou fenômeno social, ou preparação, ou conjunto de influências, e muitos conceitos mais. Ainda seguindo a linha de pensamento de J. Martins, se concorda que:
A educação tem os seguintes caracteres:
· É fato histórico, pois se realiza no tempo;
· É um processo que se preocupa com a formação do homem em sua plenitude;
· Busca a integração dos membros de uma sociedade ao modelo social vigente;
· Simultaneamente, busca a transformação da sociedade em beneficio de seus membros;
· É um fenômeno cultural, pois transmite a cultura de um contexto de forma global;
· Direciona o educando para a autoconsciência;
· É ao mesmo tempo, conservadora e inovadora. (MARTINS, J, 1990, p.23)
Deve-se analisar que a educação, mais que processo, mais que conjunto de influências, e outras, é uma atividade. Como toda atividade tem orientação, portanto, pode ser planejada. É processo, pois está constituída por ações e operações que devem ser executadas no tempo e no espaço concreto. É resultado que expressa ou manifesta uma cultura, como fato sócio-histórico.
Mas, o que é educação? A definição a seguir não pretende ser exaustiva, nem focalizada nessa palavra desde a perspectiva da lingüística textual, onde claramente, o significado sempre estará dependendo de seu contexto. Aqui só se esta definindo a categoria geral e eterna, como objeto de estudo e pesquisa da Pedagogia.
Portanto, a Educação é uma atividade social, política e econômica, que se manifesta de diversas formas e que seu sistema de ações e operações exercem influências na formação de convicções para o desenvolvimento humano do ser social e do ser individual.
Neste último aspecto vale destacar que o ser humano que se pretende construir, desde a óptica como ser social, deve ser um cidadão culto, respeitoso, com as principais virtudes, como o próprio J.Martins especifica. Esse ser humano deve ser...
...desenvolvido simultaneamente nos planos, físico e intelectual, que tem consciência clara de suas possibilidades e limitações. Um homem munido de uma cultura que lhe permita conhecer, compreender e refletir sobre o mundo. (MARTINS,J 1990, p. 22)
Isso significa que a educação pode ser direcionada, considerando a expressão social que deve refletir na consciência de cada pessoa. Por outro lado, se deve também trabalhar, nessas influências que exerce a sociedade e o estado na formação humana do ser individual, onde:
O homem independente, mas não isolado, que conhecendo suas capacidades físicas, intelectuais e emocionais, e senhor de uma visão crítica da realidade, seja capaz de atuar de forma eficaz e eficiente nessa realidade. (MARTINS,J 1990, p. 22)
Resumindo, a educação, como fenômeno inerente à sociedade, é orientação, é processo e expressão de uma cultura sócio-política. Pois como atividade, está constituída por esses aspectos. Por outro lado, sabe-se que o ser humano se realiza culturalmente em tempo e espaço, e que a complexidade dos fenômenos sociais e a quantidade de cultura emanada de muitas gerações, precisam ser otimizadas no tempo.
Resumindo, não deveria utilizar-se o termo Educação como sinônimo de instrução ou ensino, ao menos seria factível a palavra composta "Educação Escolar" o qual cientificamente falando, implicaria outra coisa diferente de ensino ou instrução. Nessa distinção reside uma das questões das ambigüidades no uso e diferenciação dos aspectos tratados aqui. Essas ambigüidades dão origens a outras. Por isso, e em busca de seu aperfeiçoamento social e individual, surge o processo pedagógico, que não deve confundir-se com o processo docente, com educação, ou com o processo educativo. O processo pedagógico, como aspecto consciente dentro do planejamento educacional, surge a partir das mudanças sofridas pela sociedade e com o objetivo de construir determinado protótipo de ser humano. Por isso, um dos meios importantes para influir na construção desse novo ser, é através do adequado planejamento educacional. Aí, os programas, planos, e projetos, resultado dessas atividades de gestão educativa, serão introduzidos e generalizados como forma ideal para orientar, executar e controlar o trabalho educativo. Portanto, é nessa perspectiva que o termo educação é considerado dentro do campo da didática.
O que é Instrução?
Este é um termo que tem sido utilizado indistintamente para se referir ao que se define como educação, e também tem sido empregado com a denotação dada aqui de ensino. Isso traz consigo um grande dilema. Soma-se a essa ambigüidade do termo, o fato de existirem erros de tradução de um idioma a outro. Mas, como o objetivo não é fazer a história das denotações desta palavra, se passa a delimitar sua concepção neste trabalho.
Segundo Baranov, S.P. et al. (1989, p. 22) "a instrução constitui o aspecto da educação que compreende o sistema de valores científicos culturais, acumulados pela humanidade". Nesta perspectiva nota-se a coincidência com o próprio termo de educação. A instrução, não é diretamente um aspecto da educação, nem reside dentro desta, nem é inerente a ela; porém, deve ser considerada essa instrução, como uma das melhores formas de aperfeiçoar e otimizar o processo educativo, o que é diferente.
A instrução não é inerente à educação; não obstante, através da instrução pode-se desenvolver a educação. Se os especialistas que consideram a instrução ou ensino como parte inerente à educação, se eles estiveram certos, não existiriam pessoas bem instruídas, pessoas já formadas, porém más educadas. Ou também, não existiriam analfabetos, sem alguma instrução, com uma "boa educação".
É muito mais preciso, desde a óptica deste trabalho, o conceito de instrução valorado pelos alemães Neuner, G, et al. (1981, p. 112) enfatizando que na literatura pedagógica o conceito de instrução se emprega, na maioria das vezes, com a significação de ministrar e assimilar conhecimentos e habilidades, com a formação de interesses cognoscitivos e talentos, e com a preparação para as atividades profissionais.
O ICCP (1988), também valora a instrução com essa mesma perspectiva profissionalizante quando expressa que:
O conceito expressa o resultado da assimilação de conhecimentos, hábitos, e habilidades; se caracteriza pelo nível de desenvolvimento do intelecto e das capacidades criadoras do homem. A instrução pressupõe determinado nível de preparação do individuo para sua participação numa ou outra esfera da atividade social. (ICCP, 1988, p. 32)
Portanto, a instrução não forma parte do conceito de educação, nem existe uma denominada lei de unidade da instrução e a educação. A instrução, como manifestação concreta do ensino, é uma ação didática que desenvolve o intelecto e a criatividade dos seres humanos com conhecimentos e habilidades que os prepara para desenvolver atividades sócio-culturais.
É possível que uma das causas pela qual a Didática seja considerada uma disciplina da Pedagogia consiste na falsa concepção de que a educação leva implícita dentro de si o processo de ensino. Portanto, como se expresso anteriormente que na língua científica não admite a sinonímia, Educação, Ensino e Instrução designam realidades diferentes.
A Educação se centra na formação do ser humano, especificamente na construção da personalidade, enquanto o Ensino reflete o processo de otimização da aprendizagem (aprendência), a qual ajuda na formação do ser humano, mas não o define. Já a Instrução é uma forma de manifestar-se o ensino, onde se focaliza os aspectos de conhecimentos e saberes da realidade objetiva e subjetiva, que complementam o treinamento e a formação qualificada.

O Ensino como objeto de estudo da didática
Antes de entrar-se na definição do objeto de estudo e pesquisa da Didática, lembre-se das palavras de J. Martins (1990, p. 23) quando expressou que "desde seu surgimento a palavra didática, significou a ciência de ensinar". Acho muito certa essa colocação, pois ainda não seja a mais difundida foi semeada desde o inicio. Pode ser questionado o termo arte ou ciência, mas a idéia fica clara que o objeto é o ensino. Não se deve esquecer que na época que se utiliza o termo, ciências eram sós as áreas de conhecimentos da natureza.
O termo "art" era utilizado para as atividades das atuais e reconhecidas áreas das ciências sociais. Mas, então por que, ainda hoje, é questionada a utilização do termo: ensino, substituindo-o por ensino-aprendizagem? A Educação às vezes se confunde com ensino, o que fica claro é que o processo inverso não acontece. O mais leigo dos leigos sabe que ensino não é Educação. A questão da definição do Objeto de estudo da Didática, reside na ambivalência da expressão ensino-aprendizagem, para definir o próprio processo de ensino. Seria interessante considerar a seguinte analogia que ajudará a entender o ensino, como objeto de estudo. Já a palavra ensino, por outro lado, poderia e é mesmo utilizada, em outras áreas como categoria, termo ou uma simples palavra. Nesse contexto, se poderia então considerar a expressão ensino-aprendizagem como uma relação e não um objeto de estudo.
Quando alguém denomina um homem de pai, utilizando o termo de pai com a significação de pai biológico, é porque esse ser humano masculino tem, como mínimo, um filho. Portanto, qualquer homem não é pai; só aquele que gerou um descendente. Algo parecido, salvando a analogia, sucede com a palavra ensino. Se um determinado professor realiza uma atividade que não gere uma "aprendizagem" objetivada, essa atividade não pode ser denominada de ensino.
Portanto, se não é lógico utilizar a palavra composta pai-filho, para designar um ser humano masculino que gerou um descendente dele, também é ilógico supor que a palavra composta "ensino-aprendizagem", substitua o objeto: ensino.
Segundo Baranov, S.P. et al (1989, p. 75) o ensino é "um processo bilateral de ensino e aprendizagem". Daí, que seja axiomático explicitar que não existe ensino sem "aprendizagem". Seu posicionamento sempre foi muito claro, quando estabeleciam entre ensino e aprendizagem, uma unidade dialética.
Para Neuner, G. et al (1981, p. 254) "a linha fundamental do processo de ensino é a transmissão e apropriação de um sólido sistema de conhecimentos e capacidades duradouras e aplicáveis." Destaca-se, por um lado, neste conceito a menção de "um sólido sistema de conhecimento", e por outro lado, as "capacidades duradouras e aplicáveis". No primeiro caso, referindo-se ao processo de instrução que procura atingir a superação dos discentes e o segundo caso ao treinamento, como forma de desenvolver as capacidades.
O Instituto Central de Ciências Pedagógicas –ICCP (1988, p. 31) define "o ensino como o processo de organização da atividade cognoscitiva" processo que se manifesta de uma forma bilateral: a aprendizagem, como assimilação do material estudado ou atividade do estudante, e o ensino como direção deste processo ou atividade do professor.
Considerando estas idéias, fica claro que não é preciso a utilização da composição léxica "ensino-aprendizagem" para destacar a importância da "aprendizagem" neste processo, pois ela é inerente ao ensino. A palavra aprendizagem neste contexto, não está sendo utilizada desde a perspectiva terminológica que distinguiria semanticamente os termos: aprendência, aprendizado e aprendizagem.
Portanto, o ensino, como objeto de estudo e pesquisa da Didática, é uma atividade direcionada por docentes à formação qualificada dos discentes. Por isso, na implementação do ensino se dão a instrução e o treinamento, como formas de manifestar-se, concretamente, este processo na realidade objetiva, o qual conduz ao objetivo essencial que é a formação qualificada do ser.
Diferenciando Educação, de Ensino, seria interessante refletir com as palavras de J.M. Guyau, quando diz que "educar a um homem não é ensinar alguma coisa que não sabia, senão fazer dele o homem que não existia." (GUYAU, J apud. ISÓIS, J. 1976, p. 14)
Ainda existem autores, geralmente autodidatas, que escrevem sobre o objeto da Didática como a práxis pedagógica ou como o normativo das atividades escolares. Também têm outros que consideram a Didática como o estudo da teoria geral da instrução, ou como a arte de ensinar, ou como o processo de ensino-aprendizagem, ou como o conhecimento, ou como o processo docente-educativo, entre muitas outras concepções. Não obstante, existe um consenso, desde sua origem: a Didática estuda o ensino.
Portanto, se o objeto de estudo e pesquisa da Didática é o ensino, e se o ensino é entendido como atividade direcionada por docente na formação qualificada dos discentes, é lógico que se reflita sobre o que e o como se deve ensinar. As respostas, ao que ensinar, são estudadas e pesquisadas pela parte da Didática, denominada Desenho Curricular, também conhecida, simplesmente, como Currículo. As respostas ao como ensinar, ficam na responsabilidade da Dinâmica de Ensino, a outra parte em que se divide esta ciência.
Conclusão
A divulgação científica sobre temas de educação e de ensino, especificamente, faz com que a cada dia se siga desvirtuando essas atividades; e por tanto, o investimento financeiro, material e humano do Sistema Nacional de Educação, não seja efetivo. Já este aspecto não é uma questão científica propriamente, corresponde à política científica tecnológica para serem aplicadas no contexto social. O objetivo aqui é só, esclarecer, desde nosso modesto ponto de vista, a necessária distinção entre Educação, Ensino e Instrução. A partir daqui, ficaria mais claro os outros aspectos que ajudam a desmitificar a falsa unidade dialética entre educação e ensino. Assim lograríamos um dia, a necessária sentença de que devemos ensinar educando, mas não só educar ensinando. Isso é fundamental para poder redimensionar o papel da escola dentro da sociedade. Esta distinção não focaliza distinção, só por distinguir, senão leva implícito um posicionamento dinâmico-participativo sobre o fato que ensinar não é diretamente proporcional à educação. O ensino em si é a forma ótima para desenvolver o processo educativo, mas não a educação como um todo.
Referencia
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NASSIF, R. Pedagogia General. Buenos Aires: Kapelusz,1958.
NEUNER,G. et al, Pedagogía. La Habana: libros para la educación,1981.
OBERVAÇÃO DIDÁTICA
Uma técnica específica da observação didática consiste no registro sistemático, válido e confiável de comportamentos ou condutas manifestadas nas aulas.


A atividade que será observada será o SEMINÁRIO CULTURA EM DEBATE: DIÁLOGOS ENTRE SABERES E FAZERES CULTURAIS que tem enquanto objetivo traçar discussões em torno da cultura e da sua relação com a universidade e com a formação docente.
O seminário abordará temas transversais à cultura, como a arte, a diversidade, a identidade memória, saberes e fazeres ancestrais e contemporâneos da sociedade.
Na programação do evento, estão previstas atividades teórico-práticas, como palestras e debate, apresentações de música, poesia, dança e performances, com o intuito de promover a fruição estética, junto às discussões na área da cultura. Numa perspectiva de práxis cultural, o seminário será um espaço destinado ao debate estético, ou seja, produtor de sentidos da expressão humana, associado às reflexões acadêmicas. Serão realizadas palestras com o Prof. Ms. Nuno Gonçalves Pereira (CAHL) que versará sobre a dimensão conceitual da cultura e a Profª Drª Dyane Brito Reis Santos (CFP), que tratará a respeito da diversidade cultural e universidade, sob a coordenação da Profª Msc Cilene Nascimento Canda (CFP).Cor do texto


A educação e a aprendizagem na filosofia de Dewey
Tatiana Galieta Nascimento

Dewey define educação como "o processo de reconstrução e reorganização da experiência, pelo qual lhe percebemos mais agudamente o sentido, e com isso nos habilitamos a melhor dirigir o curso de nossas experiências futuras". A educação deve ser encarada como uma necessidade da vida social, pois esta se perpetua por intermédio daquela. "Toda relação social que seja realmente vivida e participada é educativa para os que dela participam". No entanto, existe uma distinção entre esta educação, uma educação indireta que decorre do próprio processo da vida coletiva, e a educação direta e formal destinada às crianças na escola.
Dewey propõe um equilíbrio entre a educação tácita e não formal, recebida diretamente da vida, e a educação direta e expressa das escolas. Deveria ocorrer a integração da aprendizagem obtida através de um exercício específico destinado a algo (ocorrida na escola) com a aprendizagem diretamente absorvida nas experiências sociais. Esse exercício deveria se dar na escola por meio de um mecanismo especializado e sistemático. Na visão de Dewey tal sistema acaba por constituir um perigo, pois a escola muitas vezes torna-se um fim em si mesma, fornecendo aos alunos um material de instrução que é da escola e não da vida. Um outro erro é aceitar a teoria de que a educação é simples preparação para a vida, o que acaba por justificar todo o isolamento e artificialismo com que se organiza a escola. Para evitar tais equívocos, Dewey sugere que a escola atue como meio social, de modo que sua influência consista simplesmente num trabalho de redireção.
O processo educativo que se dá na escola é de contínua reorganização, reconstrução e transformação da vida. Segundo Dewey, "o hábito de aprender diretamente da própria vida, e fazer que as condições da vida sejam tais que todos aprendam no processo de viver, é o produto mais rico que pode a escola alcançar". Dentro da visão de que o interesse fundamental é pela vida, "aprender significa adquirir um novo modo de agir, um novo `comportamento' de nosso organismo". Ou seja, o que é aprendido tem uma força propulsora, de modo que este conteúdo se fixa intrinsecamente no organismo, passando a fazer parte dele como nova forma de comportamento.